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LESSA, S. “O processo de produção/reprodução social: trabalho e sociabilidade”. Brasília: CEAD, 1999.
Os homens só podem existir em relação com a NATUREZA. Por mais desenvolvida que seja uma sociedade, ela sempre terá uma base material. A história humana é o surgimento, desenvolvimento e desaparecimento de RELAÇÕES SOCIAIS.
TRABALHO: movimento de transformar a natureza a partir de uma PRÉVIA IDEAÇÃO. Desenvolvimento das capacidades humanas em transformar a natureza nos bens necessários ao desenvolvimento da humanidade. É no trabalho que os homens se constroem como seres diferentes da natureza. É pelo trabalho que eles não apenas produzem os bens necessários à sua sobrevivência, como ainda produzem ao mesmo tempo as novas necessidades e possibilidades, e as novas habilidades e conhecimentos dos indivíduos.
O resultado de um processo de trabalho é sempre alguma TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE. Toda OBJETIVAÇÃO produz uma NOVA SITUAÇÃO, pois tanto a realidade já não é mais a mesma, como também o individuo já não é mais o mesmo. Todo ato de trabalho produz muito mais que o objeto que dele resulta imediatamente. Ele produz, no plano objetivo, uma nova situação histórica e, no plano subjetivo, novos conhecimentos e habilidades que vão se tornando cada vez mais socializados com o passar do tempo.
Ao construir o mundo objetivo, o indivíduo também se constrói. Ao transformar a natureza, os homens também se transformam, adquirem novos conhecimentos e habilidades. Esta nova situação (objetiva e subjetiva) faz com que surjam novas necessidades e novas possibilidades para atendê-las. Os conhecimentos e habilidades que vão sendo adquiridos no trabalho terminam por dar origem aos conhecimentos artísticos, científicos, filosóficos etc.
COMPLEXOS SOCIAIS: fala, Direito, ideologia, Estado, filosofia, arte, religião, política, costumes...
TRABALHO – relação dos homens com a natureza
COMPLEXOS SOCIAIS – relações dos homens entre si.
Enquanto o trabalho visa a transformação da realidade para a produção dos bens necessários à reprodução material da sociedade, os outros complexos sociais buscam ordenar as relações entre os homens.
Todo ato de trabalho resulta em conseqüências que não se limitam à sua finalidade imediata. Ele também possibilita o desenvolvimento das capacidades humanas, das forças produtivas, das relações sociais, de modo que a sociedade se torna cada vez mais desenvolvida e complexa. É este rico, contraditório e complexo processo que, fundado pelo trabalho, termina dando origem a relações entre os homens que não mais se limitam ao trabalho enquanto tal, que denominado de REPRODUÇÃO SOCIAL.
A sociedade de modo algum se reduz ao trabalho. As próprias novas necessidades produzidas pelo trabalho dão origem a COMPLEXOS SOCIAIS que não mais fazem parte do trabalho enquanto tal. Se o trabalho distingue o homem da natureza, de modo algum podemos reduzir toda a sociedade ao trabalho.
TRABALHO ALIENADO – trabalho cuja razão de ser não mais é a necessidade do trabalhador, mas sim o desenvolvimento da riqueza da classe dominante. O processo reprodutivo das sociedades se complexifica à medida que ocorre o desenvolvimento das forças produtivas. O trabalho apenas pode se realizar se houver um poder que obrigue os indivíduos a produzirem e entregarem o fruto do seu trabalho à outra classe.
O ato de trabalho passa a ser também uma relação de poder entre os homens.O trabalho não mais será realizado por todos os membros da sociedade, mas terá uma classe social que explorará o trabalho da classe trabalhadora. RELAÇÕES SOCIAIS DE EXPLORAÇÃO - a vida social é cada vez mais baseada na violência que possibilita que uma classe viva do trabalho da outra; ALIENAÇÃO – desumanidade socialmente produzida pelos próprios homens. TRABALHO ASSALARIADO – TRABALHO ALIENADO – submissão forçada do trabalhador às necessidades de reprodução ampliada do capital.
O desenvolvimento das FORÇAS PRODUTIVAS possui um aspecto positivo e um negativo: desenvolvimento humano; potencializa a capacidade de o homem produzir desumanidades.
A transformação mais importante do trabalho enquanto tal é que, na sociedade cuja reprodução se baseia na exploração do trabalho, ele deixa de ser a expressão das necessidades do trabalhador para expressar as necessidades de acumulação de riqueza da classe dominante.
Antes o trabalho expressava a prévia ideação do trabalhador. Agora, o trabalhador executa as ordens (prévias ideações) do seu patrão. O ato de trabalho deixa de ser algo que, do início ao fim, expressava uma dada necessidade, uma determinada escolha de um indivíduo determinado, - para ser a expressão de uma escolha feita por um indivíduo e levada a prática por outro, com a finalidade de dar lucro ao patrão que não trabalhou. E o trabalhador que executa a ordem do capitalista o faz como resultado de uma coação: a única forma de o trabalhador sobreviver sob o capital é vender sua força de trabalho, em troca de um salário, ao burguês.