TRABALHO E SOCIABILIDADE – TEXTO 3 - ANTUNES, R. TRABALHO E ESTRANHAMENTO.

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Realização do Ser Social – produção e reprodução da sua existência – Trabalho – ato de produção e reprodução da vida humana – a partir do trabalho o homem torna-se ser social.

Capacidade teleológica do ser social – põe em movimento formas distinguidoras da atividade mecânica animal, configurando previamente o processo de trabalho. Momento distinguidor, separatório = manifestação do ato consciente.

Teleologia x causalidade – contraditoriedade presente no processo social: formular teleologias sobre as alternativas possibilitadas pela realidade, o que restringe e limita as possibilidades e alternativas da ação teleológica (p.122).

O trabalho mostra-se como momento fundante de realização do ser social, condição para a sua existência; é o ponto de partida para a humanização do ser social e o motor decisivo do processo de humanização do homem (123).

Tal como se objetiva na sociedade capitalista, o trabalho é degradado e aviltado. Torna-se estranhado. O que deveria se constituir em finalidade básica do ser social – a sua realização na e pelo trabalho – é pervertido e depauperado. O processo de trabalho se converte em meio de subsistência. A força de trabalho torna-se, como tudo, uma mercadoria, cuja finalidade vem a ser a produção de mercadorias. O que deveria ser a forma de realização do indivíduo reduz-se à única possibilidade de subsistência do despossuído. Desfigurado, o trabalho torna-se meio e não “primeira necessidade” de realização humana. Como resultante da forma do trabalho na sociedade capitalista tem-se a desrealização do ser social. (p. 124)

Sob o capitalismo, o trabalhador repudia o trabalho; não se satisfaz, mas se degrada; não se reconhece, mas se nega. “Daí que o trabalhador só se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho. Sente-se em casa quando não trabalha e quando trabalha não se sente em casa. O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele”. (p. 125)

“Meu trabalho seria livre projeção exterior de minha vida, portanto, desfrute de vida. Sob o pressuposto da propriedade privada é estranhamento de minha vida, posto que trabalho para viver, para conseguir os meios de vida. Meu trabalho não é vida”. (p. 125)

O trabalho como uma atividade vital, verdadeira, desaparece: “Uma vez pressuposta a propriedade priva, minha individualidade torna-se estranhada até tal ponto, que esta atividade se torna odiosa, um suplício e, mais que atividade, aparência dela; por conseqüência, é também uma atividade puramente imposta e o único que me obriga a realizá-la é uma necessidade extrínseca e acidental, não a necessidade interna e necessária”. O estranhamento remete, pois, à idéia de barreiras sociais que obstaculizam o desenvolvimento da personalidade humana. Tem-se como retrato não o pleno desenvolvimento do ser, mas a sua redução ao que é instintivo e mesmo animal. O trabalhador sente-se livremente ativo em suas funções animais (comer, beber, procriar etc.) e em suas funções humanas sente-se como um animal. O que é próprio da animalidade se torna humano e o que é humano torna-se animal (p. 125-6).

Estranhado frente ao produto de seu trabalho e frente ao próprio ato de produção da vida material, o ser social se torna um ser estranho frente a ele mesmo: o homem estranha-se do próprio homem. Torna-se estranho em relação ao gênero humano. O homem se converte em um simples meio para outro homem; um meio para a satisfação de seus fins privados. Não se verifica o momento de identidade entre o indivíduo e o gênero humano.

O indivíduo é confrontado com meros objetos (coisas, mercadorias), quando seu “corpo inorgânico” – “natureza trabalhada” e capacidade produtiva externalizada – foi dele alienado.

Estranhamento na sociabilidade contemporânea – esfera do consumo – manipulação das necessidades de consumo – formas complexas de estranhamento.