Fundamentos III - NETTO. Transformações societárias e serviço social

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Transformações societárias no capitalismo tardio

Mandel= Capitalismo tardio = capitalismo monopolista contemporâneo

revolução tecnológica - economia de trabalho vivo, elevando a composição orgânica do capital. Resultado direto (conforme projeção de Marx) cresce exponencialmente a força de trabalho excedente em face dos interesses do capital.

acumulação flexível

Estado=diminuição de sua ação reguladora, especialmente encolhimento de suas funções legitimadoras: quando o grande capital rompe o pacto que suportava o Welfare State, começa a ocorrer a retirada das coberturas sociais públicas e tem-se o corte nos direitos sociais.

A desqualificação do Estado tem sido, como se sabe, a pedra de toque do privatismo da ideologia neoliberal: a defesa do Estado mínimo pretende o Estado máximo para o capital.

Particularidade brasileira:
· Não há um welfare state a destruir
· A efetividade dos direitos sociais é residual
· Não há gorduras nos gastos sociais com os indicadores sociais que temos


Na entrada da década de noventa, o serviço social se apresenta no Brasil como uma profissão relativamente consolidada. 70 unidades de ensino, produção científica mostrando dinamismo marca a maturação profissional

No campo da prática profissional, conquistas e impasses= existência de mercado de trabalho. Insuficientes conexões entre centros de formação e campos de intervenção têm reduzido a capacidade daqueles de viabilizar inovações, bem como a sua retro-alimentação pela realidade das práticas de campo – aqui é inegável o desconhecimento mútuo; de outra e em função do anterior, as novas demandas são enfrentadas em condições desfavoráveis (baixos salários, problema na formação e conservadorismo)

A década de 80 consolidou no plano ídeo-político, a ruptura com o histórico conservadorismo do Serviço Social . Isto não significa que este foi superado na profissão, mas que posicionamentos ideológicos e políticos de natureza crítica e/ou contestadora conquistaram legitimidade.



Entretanto, a magnitude dessa ruptura foi hiperdimensionada. A dinâmica das vanguardas profissionais, altamente politizadas, ofuscou a efetividade da persistência conservadora. O conservadorismo nos meios profissionais tem raízes profundas e se engana quem o supuser residual. A legitimidade alcançada para a diversidade de posições está longe de equivaler à emergência de uma maioria político-profissional radicalmente democrática e progressista.

A consolidação da ruptura com o conservadorismo favoreceu a renovação teórico-cultural da profissão e foi um dos principais suportes para a sólida inserção do Serviço Social na academia.

Década de 80= maioridade do Serviço Social no Brasil no domínio da elaboração teórica, constituindo intelectualidade que passou a utilizar tradição marxista

A dominância dos influxos da tradição marxista contribuiu para a valorização da elaboração teórica e para o diálogo do Serviço Social com outras áreas de conhecimento.

Na virada da década as bases dessa dominância começam a ser deslocadas em decorrência do impacto na esquerdas do colapso do socialismo real, a ofensiva neoliberal, influência nos meios acadêmicos da pós-modernidade.


Serviço Social na década de 80: direção social estratégica que colide com a hegemonia política que o grande capital pretende construir.

O que estará no centro da polêmica profissional será a seguinte questão: manter, consolidar e aprofundar a atual direção estratégica ou contê-la, modificá-la e revertê-la.

Configuram-se dois paradigmas de profissional: o técnico bem adestrado que vai operar instrumentalmente sobre as demandas do mercado de trabalho tal como elas se apresentam ou o intelectual que, com qualificação operativa, vai intervir sobre aquelas demandas a partir da sua compreensão teórico-crítica, identificando a significação, os limites e as alternativas da ação focalizada.

Possíveis linhas de desenvolvimento das vertentes teórico-profissionais:

1. continuidade da vertente intenção de ruptura= seu futuro está vinculado ao trato que dará às demandas do mercado de trabalho;
2. novo alento de vertente tecnocrática, herdeira da perspectiva modernizadora, mas renovada pela ofensiva neoliberal.
3. persistência da vertente do conservadorismo tradicional, sem crescimento (fenomenologia- reatualização do conservadorismo)
4. desenvolvimento de vertente neoconservadora, inspirada na epistemologia pós-moderna (reentronização de práticas tradicionais)5. florescimento de vertentes aparentemente radicais, abertamente desqualificadoras da teorização sistemática e da pesquisa rigorosa.