TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES - Teoria Geral dos Sistemas e Abordagem Contingencial

Teoria Geral dos Sistemas

- Lógica integrativa
- Ótica agregadora

Sistema – qualquer entidade, conceitual ou física, composta de partes inter-relacionadas, interatuantes ou interdependentes, dotada de um objetivo.

Agrupamento e hierarquização dos sistemas, segundo a complexidade.

Oito níveis:

1º) Sistemas estáticos – estruturas
2º) Sistemas dinâmicos simples;
3º) Sistemas cibernéticos simples
4º) Sistema “aberto” ou auto-regulável
5º) Vida vegetal
6º) Reino animal
7º) Ser humano – auto-reflexão
8º) organização social – um conjunto de papeis enfeixados em sistemas.

Sistemas abertos (a partir do 4º nível): inter-relacionamento com o meio exterior.

Componentes e características de um sistema:
1 – Insumos (entradas, inputs): recursos materiais, humanos, financeiros, tecnológicos; energia importada para o funcionamento do sistema.
2 – Processamento (throughput): estruturação ou “arrumação” que lhe permita transformar os insumos recebidos em algo desejável.
3 – Saídas (produto, outputs): serão colocados no meio ambiente.
4 – Entropia: tendência no sentido da desagregação. No sistema social a entropia pode ser interrompida, transformando-se em entropia negativa, ou homeostase.
5 – Homeostase – oposto de entropia, reequilíbrio do sistema, dispositivos corretivos.
6 – Retroalimentação (realimentação, feedback): capacidade de o sistema reajustar sua conduta em função de desempenho já ocorrido.
7 – Decomposição do sistema em subsistema

Ambiente:

Geral: conjunto de condições que podem eventualmente ter um impacto sobre a organização;
Específico: conjunto de condições que tem um impacto direto e imediato sobre a organização.
Sistema Aberto: conjunto de partes em constante interação; interdependência das partes; todo sinérgico; dupla capacidade de influenciar o meio externo e ser por ele influenciado; relação com o ambiente externo.

Muitos dos conceitos orientadores do comportamento organizacional apoiavam-se fortemente em uma concepção de sistema fechado; concentravam-se nas operações internas das organizações.

As organizações eram consideradas como se independentes fossem de seus ambientes.

A organização pode ser vista como um sistema sociotécnico estruturado.

Subsistema técnico: tarefas, equipamento, ferramentas, técnicas;
Subsistema social: relações entre as pessoas que executarão a tarefa.

Os subsistemas técnico e social se inter-relacionam, influenciam-se mutuamente e interdependem.
Terceiro subsistema: estrutura organizacional – formalização das relações entre os subsistemas técnico e social.

A teoria geral dos sistemas criou a possibilidade de visualizarmos a organização como um sistema sociotécnico estruturado, valorizando não apenas os subsistemas, mas as inter-relações entre os mesmos.


Abordagem Contingencial

- um derivado da Teoria de Sistemas
- incorporou os pressupostos da teoria de sistemas

Princípios básicos:
 - não há uma melhor maneira de organizar
- uma determinada forma de organizar não será igual em outras situações

Melhor adequação
Adaptação
Sobrevivência
Êxito

Preocupação centrada mais na situação ou contingência e menos em regras pré-elaboradas.

Não há um único conjunto de princípios de boa organização.

Interpretar a situação de mercado e tecnológica.

Planejar o sistema gerencial apropriado às condições e então fazê-lo funcionar.

O mérito da abordagem contingencial é fazer com que a gerência normalmente concentrada nos problemas internos da organização e nas tarefas volte seus olhos para o ambiente.

Deixe de olhar para o próprio umbigo e olhe ao seu redor.

Abordagem de sistema aberto
- uma boa leitura do ambiente
- capaz de compreender o contexto, os ambientes culturais, políticos e legais em que está operando

Enfoque situacional: efeitos do ambiente à estrutura.

Diferenciação: funções organizacionais diferentes geralmente lidam com segmentos distintos do ambiente. Exemplo: marketing, mais focado nas pressões exercidas pelos clientes; produção, tende a ser mais sensível à visão dos fornecedores.

Integração: reflete as formas como as atividades funcionais são coordenadas e controladas.

Coordenação vertical: hierarquia para controlar o comportamento funcional.
Coordenação horizontal: processos laterais criados para encorajar as funções a se ajustarem mutuamente.

Ambiente: três subambientes
Subambiente mercado – função de marketing
Subambiente técnico-econômico – função de produção
Subambiente científico – pesquisa e desenvolvimento

Quanto mais dinâmico e incerto for o ambiente, maior é a necessidade de subunidades especializadas, cada uma lidando com a dinâmica de seu próprio subambiente.

O sucesso está associado a mecanismos que se preocupam em garantir que todas as subunidades contribuam para o alcance do objetivo comum.

Dimensões de diferenciação e integração permitem que os assuntos organizacionais sejam considerados de forma mais sofisticada.

Crítica: tratar as organizações como recipientes passivos da influência ambiental, postulando uma cadeia de causalidade de via única.

Ao invés de responder servilmente às mudanças ambientais com reorganizações estruturais que provocam rupturas, a maioria das organizações tenta exercer alguma influência sobre seus ambientes.

Enfoque situacional: o funcionamento interno das organizações tem que estar de acordo com as demandas da sua tarefa, de sua tecnologia, de seu ambiente externo e de acordo com a necessidade de seus membros para que a empresa seja eficaz.


Em vez de buscar um modo único de organizar-se independente de todas as circunstâncias, é preciso examinar o funcionamento das organizações em relação às necessidades de seus integrantes e das pressões externas a que devem enfrentar.

TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES - Abordagem neoclássica e Desenvolvimento Organizacional


Abordagem Neoclássica

Administração por objetivos

Características da Abordagem Neoclássica:



A ênfase na prática da Administração;



A reafirmação relativa dos postulados clássicos;



A ênfase nos princípios gerais da Administração; (p.178)





Movimento ocorrido nos EUA = Pragmatismo;



Consecução de objetivos e obtenção de resultados;



Calcada no pragmatismo americano, na abundância de recursos existentes na sociedade e na necessidade de as organizações mostrarem resultados. (p.178)



Abordagem administrativa eclética;



Tecnologia administrativa correspondente;



Administração por Objetivos. (p.178)



A Administração por objetivos foi um dos instrumentos mais utilizados nas décadas de 1950 e 1960 nos EUA;



No Brasil, seu efeito se fez sentir nas décadas de 1960 e 1970;







Tecnologia gerencial cujo objetivo é motivar o desempenho mais efetivo tanto da parte dos gerentes quanto dos subordinados por meio de um sistema participativo de fixação de objetivos e de fornecimento de feedback. (p.179)



Administração por objetivos = Administração por Resultados;

Metodologia coerente, consistente e integrada;



Uma segunda abordagem à Teoria Neoclássica]



As organizações não podiam viver como ilhas, isoladas do restante da sociedade;



Os primeiros esforços para uma maior abertura das organizações = Os sociólogos; (p.180)



Organização como um sistema social que tem seu foco na consecução de um objetivo específico e que contribui para os objetivos de sistemas mais abrangentes, como a organização maior ou a própria sociedade; (p.181)



Desenvolvimento Organizacional



Três pressupostos:



O primeiro é que cada época necessariamente deve desenvolver uma forma organizacional como resposta aos problemas que enfrenta; (p.186)



Era preciso uma revitalização das organizações para fazerem frente aos novos desafios;

Em segundo lugar, quando se fala em mudar uma organização, o que se está dizendo, na verdade, é que se precisa mudar a cultura da organização, a forma segundo a qual as pessoas pensam, trabalham e vivem. (p.186)





Em terceiro lugar, para que haja modificações, se faz necessário uma nova conscientização social de parte das pessoas que vivem nas organizações. (p.186)



Características do Desenvolvimento Organizacional:



Estratégia educacional para se chegar a uma mudança organizacional planejada, concentrando-se nas pessoas: seus valores, suas atitudes e relações; (p.186)



As mudanças buscadas devem estar conectadas a problemas específicos diretamente enfrentados;

Uma estratégia organizacional dá prioridade ao comportamento já experimentado pela organização, apóia-se na experiência prévia e no feedback para, a partir daí, construir um novo comportamento. (p.186)



Só podemos construir a partir daquilo que possuímos, conhecemos e já experimentamos;

Os agentes de mudança são, na maioria das vezes, mas não exclusivamente, externos ao sistema-cliente. “santo de casa não faz milagre”. Um consultor externo à organização.(p.186-7)



Estreita colaboração entre o agente de mudança (consultor) e os componentes do sistema-cliente (organização);

Os agentes de mudança compartilham de uma filosofia social, um conjunto de valores sobre o mundo em geral e sobre as organizações humanas em particular. (p.187)



Uma exigência, quer interna, quer externa à organização, estimula uma resposta por parte de um agente externo para aplicar conhecimentos válidos a um sistema-cliente. (p.187)



Grande virtude do DO foi ter trazido, de uma maneira progressiva e ordenada, todos os conhecimentos calcados nas teorias comportamentais e na abordagem sistêmica para resolver problemas concretos enfrentados pelas organizações. (p.187)



Ênfase dada foi claramente concentrada nos aspectos comportamentais, ou seja, no subsistema social das organizações;

Se a abordagem neoclássica valorizava os aspectos formais, o subsistema técnico das organizações, a abordagem do DO deslocou a ênfase para o subsistema sociocomportamental. (p.188)



A abordagem do DO é essencialmente pragmática, trabalhando sobre e a partir da realidade organizacional para garantir as mudanças desejadas;

(p.188)



Três modelos:

Método de pesquisa-Ação de N. Garder:

Acoplar pesquisa e ação;

“a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa que não se limita a descrever uma situação;

Trata-se de gerar pequenos acontecimentos que levam a desencadear mudanças no seio da coletividade implicada. (p.188)



A pesquisa-ação procura diminuir o medo da mudança, pois permite às pessoas envolvidas no processo saber o porquê da mudança e como ela poderá afetá-las;

Participam do planejamento do processo de mudança; (p.189)





Uma liderança participativa na criação de um cenário em que é possível haver criatividade, inovação e produtividade;



Introduzir a pesquisa-ação composta por 12 passos;



Participação significativa das pessoas envolvidas;



Treinamento em ação, tanto para o interventor quanto para o cliente. (p.189)





O Modelo da Renovação Institucional de G. Caravantes

O Modelo da Renovação Institucional (MRI) trata, de oito categorias:

1- missão organizacional;

2- agentes potenciais;

3- Fator crítico ou estratégico; (p.192)



4- Possibilidade objetiva;

5- Participação e consenso;

Estratégias de aprendizagem;

Estágios;

Contexto;



Interesse na produção de mudança (p.192)



Missão Organizacional



Propósito, objetivos e metas em uma escala de generalidade decrescente (ou de especificidade crescente);

Propósito: um termo de ampla abrangência, que se refere a quaisquer compromissos com situações futuras desejadas, ou com sequências de situações inter-relacionadas; (p.192)





Objetivo: uma categoria específica de propósito. Satisfação de interesses, produção, insumo-rendimento, relações, eficiência, mobilização de recursos, investimento em viabilidade, observância de códigos e racionalidade – constituem objetivos organizacionais. (p.193)



Meta: Um objetivo expresso em termos de uma ou mais de uma dimensão específica, tal como a quantidade ou qualidade da produção, ou custos unitários de produção; (p.193)





Cada atividade organizada pressupõe um propósito;



Uma ação administrativa só adquire significado quando relacionada a um propósito. (p.193)



Agentes Potenciais

Nessa categoria estão incluídos os executivos;

Executivos são pessoas que aproximam as pessoas, nas organizações, para fazer com que alguma coisa aconteça. (p.194)



O propósito, em si, não tem caráter de efetividade. É somente por meio da ação de determinados indivíduos que se transforma em realidade;

“ vontade do agente, guiada por um propósito sistemático, é, em última análise, a causa dos acontecimentos” (p.194)



O Fator Estratégico



É aquele “cujo controle, na forma correta, no lugar e no tempo corretos, estabelecerá um novo sistema ou um conjunto de condições capaz de atingir o propósito; (p.195)



Em um sistema aberto e complexo como uma organização, o fator estratégico nunca é inerente à situação;



Em um sistema organizacional, o fator estratégico ou de controle é sempre a ação dos líderes da organização; (p.195)



Não é o elemento que está faltando, mas a ação, que pode conseguir o elemento que falta, que constitui o fator de controle;

Decisões eficazes como o controle de fatores estratégicos mutáveis, isto é, o exercício do controle no momento certo, no lugar certo, na quantidade certa e da maneira certa, de modo que o propósito seja adequadamente redefinido e alcançado. (p.195)



A capacidade do agente para extrair os critérios e as regras pertinentes da própria situação, e não de “verdades científicas” ou absolutas, é um dos fatores que determinam o desempenho estratégico desse agente. (p.195)



Possibilidade Objetiva

Sugere que as possibilidades presentes em determinada situação necessariamente transcendem, em termos quantitativos, tanto a faixa de alternativas que o agente é capaz de perceber quanto aquilo que, finalmente, vem a se concretizar. (p.196)



Consenso e Participação



Consenso: ... O grau de consenso é uma medida do grau em que a organização está integrada como uma coletividade... (p.197)



Consenso sobre valores gerais;

Consenso sobre metas organizacionais;

Consenso sobre meios, políticas ou táticas;

Consenso sobre participação;

Consenso sobre obrigações de desempenho;

Consenso sobre as perspectivas de conhecimento; (p.197)



Participação

Participação na tomada de decisões e no planejamento;

... o meio mais imediato de promover a auto-ativação é o desenvolvimento das pessoas no processo de determinarem elas mesmas os desejados cursos de ação. (p.198)



Várias formas de ampla participação na tomada de decisões e no planejamento conseguiram reduzir a rotatividade, facilitaram o ajustamento a mudanças nos métodos de produção, aumentaram o rendimento, proporcionaram melhor ambiente para os trabalhadores qualificados, estimularam a participação em atividades sindicais e revelaram o valor de controvertidos programas de participação externa. (p.198)



É preciso que haja uma organização construtivamente participatória;

Deve ser dada às pessoas a oportunidade de participação no planejamento e na tomada de decisões relacionadas com as atividades que deverão exercer; (p.198)



...as pessoas têm maior probabilidade de mudar se participarem da exploração das razões da mudança e dos meios de efetuá-la... A liderança participante tem eficácia na preparação do cenário para criatividade, produtividade e inovação. (p.198)



Estratégia de

Aprendizagem

Uma estratégia que vise a uma contínua busca de aperfeiçoamento por parte dos membros da organização e desta como um todo. Transcende o aprendizado de simples capacidades funcionais, aprendizado que pode ser equacionado via treinamento. (p.199)



Verdadeira aprendizagem, que transcende os modelos mecanicistas.



Aprendizagem: Uma Definição



Processo de aquisição da capacidade de utilização do conhecimento – um processo que ocorre como resultado de prática e de experiência crítica e que produz uma mudança relativamente permanente de comportamento. (p.199)



a) a aprendizagem é um processo; não pode ser considerada um resultado final, um produto, uma solução pré-fabricada de um determinado problema;

A aprendizagem é um movimento contínuo e dinâmico, é o movimento na direção de uma meta específica, em cujo desenrolar novas formas de percepção e do trato da realidade são geradas. (p.199)





B) A aprendizagem ocorre como resultado de prática e de experiência crítica – o conhecimento requer a evolução conjunta de prática e teoria; (p.199)



C) O conhecimento precisa ser usado;

Teoria e práxis estão inextricavelmente interligadas;

As idéias teóricas deveriam sempre encontrar importantes aplicações. (p.199)



D) A aprendizagem produz uma mudança relativamente permanente de comportamento;



Estágios de desenvolvimento



A variação e a maturação das organizações;

Estágios de crescimento potencial;

Mudança orgânica; (p.203)



O Ambiente

Fronteira entre a organização e o ambiente;

O Conceito de Fronteira entre Organização e Ambiente

Uma organização, que é um sistema aberto, inter-relaciona-se com seu ambiente por meio de uma variedade de processos de importação, conversão e exportação. (p.204)





O ambiente significa o sistema maior – a sociedade ou a nação – de que a organização é parte;



Ambiente-tarefa poderia ser composto de quatro setores principais: (p.204)



1- Clientes (distribuidores e usuários);

2- Fornecedores de materiais, mão-de-obra, capital, equipamento e alcance do trabalho;

3- Competidores, tanto de mercado quanto de recursos; e

4- Grupos regulatórios, incluindo agências governamentais, sindicatos e associações interfirmas. (p.204)



Fronteira: Um sistema tem uma fronteira, que o separa de seu ambiente;



“função de controle de fronteira”;



Fronteira como uma região e não como uma linha;



O inter-relacionamento entre a organização e seu ambiente é intrinsecamente complexo e, portanto, precisa de especial competência para ser gerenciado de maneira eficiente; (p.205)



Modelo de Mudança de Kurt Lewin

Mudança: a modificação daquelas forças que mantêm estável o comportamento de um sistema;



Dois grupos de forças: aquelas que pretendem manter o status quo e aquelas voltadas para a mudança. (p.208)





O processo de mudança baseando-se em três passos:



1- Descongelamento: reduzir aquelas forças que mantêm o comportamento da organização em seu nível atual. (p.208)



2-Mudança: altera o comportamento da organização, departamento ou indivíduo;

Intervenção no sistema para desenvolver novos comportamentos, valores e atitudes por meio de mudanças na estrutura e processos da organização; (p.209)



3- Recongelamento: Estabiliza a organização em um novo patamar de equilíbrio;

Mecanismos de suporte que reforçam o novo estágio organizacional, como cultura organizacional, normas, políticas e estruturas. (p.209)



Desenvolvimento Organizacional



Sua tônica e eixo de raciocínio está conectado à mudança: mudança planejada, articulada, pensada e não reativa, ao sabor dos ventos. (p.210)

TO - Abordagem das Relações Humanas e Estruturalista

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Abordagem das Relações Humanas


Elton Mayo (1880- 1949)

Pai das relações humanas;

Identificação da relevância de fatores não econômicos – especialmente os sociais – na motivação dos trabalhadores;

Teoria das Relações Humanas;

Outros fatores estavam ligados ao homem, à sua motivação, a seu envolvimento maior ou menor com a tarefa. (p.80)

Efeito Hawthorne: o homem, o grupo e suas inter-relações eram vitais para os resultados buscados pelas organizações.

 Coloca em xeque os pressupostos da Teoria Clássica:

 O incentivo econômico não é a única força motivadora a que o trabalhador responde; influenciada tanto por suas relações como por seus problemas pessoais; (p.81)

O trabalhador não se comporta como um ser isolado. Inter-relações: organização informal.

A especialização funcional não cria, necessariamente, a organização mais eficiente;

Rotação de cargos, contribui para seu melhor desempenho; (p.81)

Roethlisberger

Dickson: o aspecto técnico da necessidade de maior eficiência e retorno econômico deveria ser visto como inter-relacionado com a preocupação pelos aspectos humanos de todas as organizações.

Os empregados têm necessidades físicas, mas também possuem necessidades sociais. (p.82)

Sentimentos sobre coisas de valor social tornam-se de extrema importância;

Organizações como sistemas sociais;

Conflito entre a lógica da eficiência, exigida pela organização formal, e a lógica dos sentimentos, da organização informal. (p.82)

Enfatizava as relações interpessoais, o ato de escutar atentamente, a comunicação, as habilidades sociais e humanas do supervisor-líder;

Equilíbrio entre a lógica da eficiência e a não-lógica dos sentimentos; (p.82)

Superar as disfunções existentes e restaurar a solidariedade do grupo;

Mérito: atenuar, o mecanicismo presente na Teoria Clássica;

Por outro lado, ela deslocou-se para outro extremo; (p.82)

Os estudos de Hawtorne concluíram que:

A colaboração nos grupos; as relações no ambiente de trabalho – coesão;

Demandas sociais;

Grupos informais;

O trabalho é uma atividade de grupo;

 O mundo social de um adulto é primariamente estruturado pela atividade de trabalho. (p.83)

A necessidade de reconhecimento, segurança e senso de pertencimento; (p.83)


A abordagem estruturalista: Em busca de uma síntese

Amitai Etzioni (estruturalista);

Tentativa de englobar aspectos importantes da Abordagem Clássica e aspectos relevantes da Escola de Relações Humanas. (p.88)

Busca de racionalidade por parte da organização e a busca de felicidade de parte do indivíduo.

Síntese da Escola Clássica (ou formal) com a da Escola de Relações Humanas (ou informal);

Introduz uma nova lógica, integrativa e não dicotômica; (p.88)

 Novos temas como conflito, alienação, poder;

 Preocupa-se não apenas com as organizações industriais;

Assim, a análise organizacional ampliou suas preocupações:

Tanto a organização formal quanto a informal, bem como suas inter-relações; (p.89)

O objetivo e o alcance dos grupos informais;

Tanto os níveis mais altos como os mais baixos na organização;

Tanto as recompensas materiais como as não-materiais;

A interação da organização com seu ambiente;

Tanto organizações de trabalho como as outras, de natureza diferenciada. (p.89)

IAMAMOTO - SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

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IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo, Cortez: 1998.

O Serviço Social na contemporaneidade

Sintonizando o serviço social com os novos tempos

Pensar o serviço social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifra-lo e participar da sua recriação.(p.19)

Premissa

o atual quadro sócio-histórico não se reduz a um pano de fundo para que se possa, depois, discutir o trabalho profissional. Ele atravessa e conforma o cotidiano do exercício profissional do assistente social, afetando as suas condições e relações de trabalho, assim como as condições de vida da população usuária dos serviços sociais. (p.19)

Pressupostos

é necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão de dentro do serviço social. Necessário extrapolar o serviço social para melhor apreende-lo na história da sociedade da qual ele é parte e expressão.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos assistentes sociais na atualidade: decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (p.20)
Olhar para fora do serviço social é condição para se romper tanto com uma visão rotineira, reiterativa e burocrática do serviço social, que impede vislumbrar possibilidades inovadoras para a ação, quanto com uma visão ilusória e desfocada da realidade, que conduz a ações inócuas. Ambas têm um ponto em comum: estão de costas para a história, para os processos sociais contemporâneos. (p.22)
entender a profissão hoje como um tipo de trabalho na sociedade. A abordagem do serviço social como trabalho supõe apreender a chamada prática profissional profundamente condicionada pelas relações entre o Estado e a Sociedade Civil, ou seja, pelas relações entre as classes na sociedade, rompendo com a endogenia do serviço social. O processo de compra e venda da força de trabalho especializada em troca de um salário faz com que o serviço social ingresse no universo da mercantilização, no universo do valor. A profissão é socialmente necessária, tem um valor de uso, uma utilidade social. (p.22-4)
Tratar o serviço social como trabalho supõe privilegiar a produção e a reprodução da vida social, como determinantes na constituição da materialidade e da subjetividade das classes que vivem do trabalho, nos termos de Antunes. Quando se fala em produção/reprodução da vida social não se abrange apenas a dimensão econômica, mas a reprodução das relações sociais de indivíduos, grupos e classes sociais. Abrange também as formas de pensar, isto é, as formas de consciência, através das quais se apreende a vida social. (p.25-7)
Em síntese, o serviço social é considerado como uma especialização do trabalho e a atuação do assistente social uma manifestação de seu trabalho, inscrito no âmbito da produção e reprodução da vida social. Esse rumo da análise recusa visões unilaterais, que apreendem dimensões isoladas da realidade, sejam elas de cunho economicista, politicista ou culturalista. A preocupação é afirmar a óptica da totalidade na apreensão da dinâmica da vida social.(p.27)

Questão social e serviço social

O serviço social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho. Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (p.27)

Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, pr envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a elas resistem e se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movidos por interesses distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. Por isto, decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social, hoje, é de fundamental importância para o Serviço Social em uma dupla perspectiva: para que se possa tanto apreender as várias expressões que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais, quanto projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida.(p.28)

As transformações no mundo do trabalho vêm acompanhadas de profundas mudanças da esfera do Estado, consubstanciadas na reforma do Estado, exigida pelas políticas de ajuste, tal como recomendadas pelo consenso de Washington. Em função da crise fiscal do Estado em um contexto recessivo, são reduzidas as possibilidades de financiamento dos serviços públicos; ao mesmo tempo, preceitua-se o enxugamento dos gastos governamentais, segundo os parâmetros neoliberais. (p.34)

As repercussões da proposta neoliberal no campo das políticas sociais são nítidas, tornando-se cada vez mais focalizadas, mas descentralizadas, mais privatizadas. Presencia-se a desorganização e destruição dos serviços sociais públicos. (p.36)

Tais indicações apontam para que a reflexão contemporânea sobre o trabalho profissional tome, com urgência, um banho de realidade brasileira, munindo-se de dados, informações e indicadores que possibilitem identificar as expressões particulares da questão social, assim como os processos sociais que as reproduzem. (p.37-8)

As mudanças no mercado profissional de trabalho

Esse processo desafia todos os cidadãos e, em especial, os assistentes sociais, repercutindo no mercado de trabalho especializado.. A retração do Estado em suas responsabilidades e ações no campo social manifesta-se na compressão das verbas orçamentárias e no deterioramento da prestação de serviços sociais públicos. Vem implicando uma transferência, para a sociedade civil, de parcela das iniciativas para o atendimento das seqüelas da questão social, o que gera significativas alterações no mercado profissional de trabalho, com a refilantropização social. Não se trata de um ressurgimento da velha filantropia, do século XIX. O que se presencia é filantropia do grande capital, resultante de um amplo processo de privatização dos serviços públicos. (p.42-3).

Todo esse processo vem repercutindo no mercado de trabalho do assistente social. Cresce a atuação do Serviço Social na área dos recursos humanos, na criação dos comportamentos produtivos favoráveis para a força de trabalho, também denominado de clima social. Ampliam-se as demandas ao nível da atuação nos círculos de controle da qualidade, nos programas de qualidade total. (p.47)

O que tais alterações trazem de novo? O Serviço Social sempre foi chamado pelas empresas para eliminar focos de tensões sociais, criar um comportamento produtivo da força de trabalho, contribuindo para reduzir o absenteísmo, viabilizar benefícios sociais, atuar em relações humanas na esfera do trabalho.. Embora essas demandas fundamentais se mantenham, elas ocorrem hoje sob novas condições sociais e, portanto, com novas mediações. Assim, os chamamentos à participação, o discurso da qualidade, da parceria, da cooperação são acompanhados pelo discurso de valorização do trabalhador. Para assegurar a qualidade do produto é necessário a adesão do trabalhador às metas empresariais da produtividade, da competitividade. (p.47)

O ensino em Serviço Social e a construção de um projeto profissional nas décadas de 1980/90

A década de 80 foi fértil na definição de rumos técnico-acadêmicos e políticos para o Serviço Social . Hoje existe um projeto profissional, que aglutina segmentos significativos de assistentes sociais no país, amplamente discutido e coletivamente construído ao longo das duas últimas décadas. As diretrizes norteadoras desse projeto se desdobraram no código de ética profissional do assistente social, de 1993, na lei da regulamentação da profissão de Serviço Social e hoje, na nova proposta de diretrizes gerais para o curso de Serviço Social .

Esse projeto de profissão e de formação profissional, hoje hegemônico, é historicamente datado. É fruto e expressão de um amplo movimento da sociedade civil desde a crise da ditadura, afirmou o protagonismo dos sujeitos sociais na luta pela democratização da sociedade brasileira. Foi no contexto de ascensão dos movimentos sociais, das mobilizações em torno da elaboração e aprovação da Constituição de 88, das pressões populares que redundaram no afastamento do Presidente Collor, que os assistentes sociais foram sendo questionados pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil. E os assistentes sociais não ficaram a reboque desses acontecimentos. Ao contrário, tornaram-se um dos seus co-autores, co-participantes desse processo de lutas democráticas na sociedade brasileira. Encontra-se aí a base social da reorientação da profissão nos anos 80. O Serviço Social deu um salto de qualidade em sua autoqualificação na sociedade e a relação do debate atual com esse longo trajeto é uma relação de continuidade e de ruptura. (p.50-1)

Impasses profissionais na atualidade

o famoso distanciamento entre trabalho intelectual, de cunho teórico-metodológico, e o exercício da prática profissional cotidiana, ou seja, a defasagem entre as bases de fundamentação teórica da profissão e o trabalho de campo;
a construção de estratégias técnico-operativas para o exercício da profissão, ou seja, preencher o campo de mediações entre as bases teóricas já acumuladas e a operatividade do trabalho profissional.

O caminho para a ultrapassagem desses impasses parece estar, por um lado, no cultivo de um trato teórico-metodológico rigoroso, mas a ele aliado, um atento acompanhamento histórico da dinâmica da sociedade. (p.52)

O grande desafio na atualidade é, pois, transitar da bagagem teórica acumulada ao enraizamento da profissão na realidade, atribuindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias, táticas e técnicas do trabalho profissional, em função das particularidades dos temas que são objetos de estudo e ação do assistente social. (p.52)

Três armadilhas da profissão nos últimos anos:

teoricismo= o equívoco foi pensar que a apropriação teórico-metodológica no campo das grandes matrizes do pensamento social garantiria a descoberta de novos caminhos para o exercício profissional. Na verdade seria mais apropriado pensar que a busca de novos caminhos passaria por uma apropriação mais rigorosa da base teórico-metodológica, mas não se reduziria a ela;
politicismo= o equívoco foi pensar que o engajamento político nos movimentos organizados da sociedade e nas instâncias de representação da categoria garantiria a intervenção profissional articulada aos interesses dos setores majoritários da sociedade. Mais apropriado seria reconhecer a dimensão política da profissão e as suas implicações mais além do campo estrito da ação profissional, pensada a partir da inserção nos movimentos organizados da sociedade;
tecnicismo= o equívoco foi pensar que o mero aperfeiçoamento técnico-operativo garante uma inserção qualificada do assistente social no mercado de trabalho. Mais apropriado seria considerar este aperfeiçoamento como um dos elementos exigidos para a qualificação profissional.

Cada elemento original contido naquelas afirmativas: teórico-metodológico, ético-político e técnico- operativo são fundamentais e complementares entre si.(p.53)
Desafio: articular a profissão e a realidade já que o Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade. Neste sentido, o que se reivindica é que a pesquisa se afirme como uma dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para se formular respostas capazes de impulsionar a formulação de propostas profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios ético-políticos norteadores do projeto profissional. (p.56)

A prática como trabalho e a inserção do assistente social em processos de trabalho

Proposta curricular atual contém dois elementos que representam uma ruptura com a concepção dos anos 80:
considera a questão social como base de fundamentação sócio-histórica do Serviço Social
apreende a prática profissional como trabalho o exercício profissional inscrito em um processo de trabalho.
A questão social deixa de ser considerada apenas como desigualdade social entre pobres e ricos, passando a considerar as particulares formas de luta, de resistência material e simbólica acionadas pelos indivíduos sociais à questão social. (p.59)
A análise da prática do assistente social como trabalho, integrado em um processo de trabalho permite mediatizar a interconexão entre o exercício do Serviço Social e a prática da sociedade. Sendo o trabalho uma atividade prático-concreta e não só espiritual, opera mudanças tanto na matéria ou no objeto a ser transformado, quanto no sujeito, na subjetividade dos indivíduos, pois permite descobrir novas capacidades e qualidades humanas. (p.60)
Todo processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que potenciam a ação do sujeito sobre o objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim, que resulta em um produto. (p.61-2)
O objeto de trabalho ou a matéria-prima do Serviço Social são as expressões da questão social; o conhecimento é o meio de trabalho, ou seja, as bases teórico-metodológicas são recursos essenciais que o assistente social aciona para exercer o seu trabalho = o conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos pelo assistente social ao longo de seu processo formativo são parte do acervo de seus meios de trabalho. (p.63)

O AS não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho: financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo. Ainda que disponha de relativa autonomia na efetiva cão de seu trabalho, o AS depende, na organização da atividade, das instituições que o contratam. Portanto, a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do AS, ou um obstáculo. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele participa. (p.63)
O Serviço Social é socialmente necessário porque ele atua sobre questões que dizem respeito a sobrevivência social e material dos setores majoritários da população trabalhadora. Tem uma objetividade que não é material mas é social. (p.67)
Conclusão: o Serviço Social é um trabalho especializado, expresso sob a forma de serviços, que tem produtos: interfere na reprodução material da força de trabalho e no processo de reprodução sociopolítica ou ídeo-política dos indivíduos sociais. (p.69)

As novas diretrizes curriculares

A proposta de currículo encontra-se estruturada a partir de três núcleos temáticos:
fundamentos teórico-metodológicos da vida social=Compreende um acervo de temas que permite fornecer bases para a compreensão da dinâmica d vida social na sociedade burguesa;
fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira= compreende elementos que permitam apreensão da produção e reprodução da questão social e as várias faces que assume nessa sociedade;
fundamentos do trabalho profissional= compreende todos os elementos constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho. (p.72)

Esses três núcleos não representam uma seqüência evolutiva ou uma hierarquia de matérias, são níveis distintos e complementares de conhecimentos necessários à atuação profissional. (p.73)

Rumos ético-políticos do trabalho profissional

O Serviço Social nos anos 80 teve os olhos mais voltados para o Estado e menos para a sociedade, mais para as políticas sociais e menos para os sujeitos com quem trabalha, o modo e as condições de vida. (p.75)
O código de ética nos indica um rumo ético-político, um horizonte para o exercício profissional. O desafio é a materialização dos princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se transformem em indicativos abstratos. (p.77)

O debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do marxismo

Se a descoberta do marxismo pelo Serviço Social latino-americano contribuiu decisivamente para um processo de ruptura teórica e prática com a tradição profissional, as formas pelas quais se deu aquela aproximação do Serviço Social com o amplo e heterogêneo universo marxista foram também responsáveis por inúmeros equívocos e impasses de ordem teórica, política e profissional cujas refrações até hoje se fazem presentes. (p.210)
O primeiro equívoco se deu a partir do fato de que o encontro do Serviço Social com a perspectiva crítico-dialética deu-se por meio do filtro da prática político-partidária, fazendo com que muitas inquietudes da militância fossem transferidas para a prática profissional. (p.210)
Outro equívoco foi que a aproximação do Serviço Social com a tradição marxista, não se deu através da consulta aos clássicos. Foi uma aproximação a um marxismo sem Marx, resultando numa invasão às ocultas, do positivismo no discurso marxista do Serviço Social. (p.211)
O resultado é o dilema até hoje presente na profissão: o fatalismo e o messianismo. O primeiro naturaliza a vida social e compreende a profissão como totalmente atrelada às malhas do poder, entendido como monolítico, o que resulta numa prática de subjugação do profissional ao instituído; o segundo, privilegia os propósitos do profissional individual, resultando num voluntarismo. (p.213)
O enfrentamento com a herança da reconceituação vai dar-se tardiamente no Brasil, no bojo da crise da ditadura, quando o próprio revigoramento da sociedade civil faz com que se rompam as amarras do silêncio e do alheamento político forçado.

O debate brasileiro contemporâneo e a tradição marxista

Se a reconceituação viabilizou a primeira aproximação do Serviço Social com o marxismo por rotas tortuosas, o primeiro encontro do Serviço Social com a obra marxiana, dela decorrendo explícitas derivações para a análise do Serviço Social, deu-se no Brasil, apenas na década de 80. tratou-se de um encontro de nova qualidade com a tradição marxista. (p.234)
Os eixos do debate do Serviço Social na década de 80 no campo da tradição marxista giravam em torno de dois temas:
a crítica teórico-metodológica tanto do conservadorismo como do marxismo vulgar, colocando a polêmica em torno das relações entre teoria, história e método, com claras derivações no âmbito da formação profissional;
a construção da análise da trajetória histórica do Serviço Social no Brasil. (p.236)

Avanços do debate brasileiro, do ponto de vista teórico-metodológico nos anos 80, em relação ao legado do movimento de reconceituação:
avança da negação e denúncia do tradicionalismo ao enfrentamento efetivo de seus dilemas e impasses teórico-práticos;
do metodologismo à inserção da polêmica teórico-metodológica no Serviço Social nos principais marcos do pensamento social contemporâneo;
da apologética no trato do marxismo no Serviço Social ao debate clássico contemporâneo dessa tradição intelectual;
do ativismo político-profissional à criação de condições acadêmicas e socioprofissionais que propiciaram maior solidez a práticas renovadoras inscritas no mercado de trabalho dos assistentes sociais;
do ecletismo ao pluralismo;
de uma abordagem generalista sobre a América Latina a ensaios históricos sobre o Serviço Social em diferentes momentos conjunturais da formação social no país, ampliando as possibilidades de análise da profissão na história brasileira; (p.(236-7)
Ressalta-se o avanço que o debate contemporâneo vem apresentando ante o tradicionalismo profissional – presidido pela ideologia do mando e do favor no trato da coisa pública, metamorfoseando o cidadão em súdito do Estado; avanço também em relação ao legado da reconceituação. Esta, retraduzindo os objetivos profissionais em organização, capacitação e conscientização dos oprimidos tendo como alvo a transformação social, não considerou, em suas análises, as mediações históricas e teóricas que possibilitassem articular os propósitos profissionais às conjunturas nacionais particulares e, em especial, ao mercado de trabalho. (p.240-1)

Identidade - Gênero

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GÊNERO

uma questão social

1 – as desigualdades observadas entre homens e mulheres na sociedade não se explicam tendo por base apenas as suas características biológicas e, portanto, naturais, mas sim pelos processos históricos que configuram um determinado padrão de relações de gênero;

2 – inexistência de uma “essência masculina” ou uma “essência feminina”, de caráter imutável e universal, às quais homens e mulheres estariam presos;

3 – a divisão de poder realizada entre homens e mulheres ocorre de maneira desigual.


“construção social”


“organização social das relações entre os sexos”.

maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres
categoria social imposta sobre um corpo sexuado

se as causas da desigualdade são sociais, também o são as suas possibilidades de transformação.

o termo “gênero” começa a ser utilizado com mais freqüência a partir da virada da década de 90

caráter relacional do gênero: a informação a respeito das mulheres é necessariamente informação sobre os homens, um implica no estudo do outro


1a) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos;

2o) o gênero é uma forma primordial de significar as relações de poder”.


O gênero articula quatro elementos relacionados entre si:

1o) os “símbolos culturalmente disponíveis”, de várias modalidades e nos mais variados contextos;

2o) os “conceitos normativos”, expressos nas mais diferentes formas, como as doutrinas religiosas, práticas educativas, científicas, políticas, jurídicas etc., que evidenciam as diversas interpretações dos sentidos que os símbolos possuem;


3o) a percepção de que o gênero se encontra presente na esfera política, bem como nas organizações e instituições sociais, não se limitando, portanto, a esferas tradicionalmente consideradas como específicas do gênero, como as relações de parentesco, por exemplo;

4o) a “identidade subjetiva”, que possui em seu processo de construção uma forte influência do gênero.


O gênero é um conjunto de referências que estrutura a percepção e a organização concreta e simbólica de toda a vida social.

o gênero encontra-se implicado na concepção e construção do poder em si.


“GÊNERO”

Termo, conceito ou categoria que designa o fenômeno ou conjunto de fenômenos que expressam um padrão específico de relações existentes entre homens e mulheres, homens e homens, e mulheres e mulheres. Estas relações, que na nossa sociedade são, em sua maioria, marcadas pelas desigualdades, expressam a existência de uma forma determinada de relação entre os diversos sujeitos sociais.

Teoria das Organizações - ABORDAGEM CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO

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Taylor - ponto de partida da reflexão sistematizada sobre as organizações industriais.

Segunda Revolução Industrial – novas matérias-primas; máquina automatizada; conhecimento começou a ser introduzido na vida industrial; novas técnicas de produção e de trabalho eram exigidas; mercado crescente e demandante por produtos.

EUA – Taylor, Ford – ênfase na tarefa, na racionalização, na redução dos tempos de execução; engenheiros por formação – chão de fábrica – Concepção “engenheirística” da organização – visão “de baixo para cima”.

Europa – entendimento da organização a partir da cúpula – estruturação ou departamentalização da organização (anatomia) e seu funcionamento (fisiologia) – Concepção anatômica – organização “de cima para baixo” – Fayol.

Taylor: trabalhadores – era de seu maior interesse trabalhar devagar em vez de andar rápido na execução de suas tarefas; entendiam que deveriam contribuir com a menor quantidade possível de trabalho pelo salário que recebiam.

Para Taylor, o aumento da eficiência acabava tendo como resultado um mercado ampliado, com aumento de empregos, e não redução.

Administração Científica – “revolução mental”

Quatro princípios:

1 – reunir a grande massa de conhecimentos tradicionais que se encontravam na cabeça dos trabalhadores , registrá-los, tabulá-los e reduzi-los a regras, leis e fórmulas matemáticas;

2 – seleção científica dos trabalhadores e seu progressivo desenvolvimento;

3 – aproximar os conhecimentos, a ciência, dos trabalhadores treinados;

4 – completa divisão do trabalho.

Antes, praticamente toda a tarefa era executada pelo trabalhador. Agora, toda tarefa a ser executada na empresa é dividida em duas grandes partes, e uma delas vai inteiramente para a gerência.

Administração Científica busca:

1 – estabelecer uma ciência da produção;

2 – treinar e selecionar trabalhadores;

3 – aplicar essa ciência para tarefas operativas;

4 - construir um sistema de cooperação entre trabalhadores e gerência para alcançar os objetivos.



Possibilita o sistema de produção em massa.

Taylor entendia que o sucesso do indivíduo estava inevitavelmente associado ao sucesso da organização. Tornava possível reduzir, senão eliminar, o conflito indivíduo/organização.

Henri Fayol (1841-1925)

Contrapartida francesa para o Taylor

Encarava os problemas organizacionais a partir da ótica do nível diretivo

Elementos:

Planejamento

Organização

Comando

Coordenação

Controle (p.61)

Aspectos diretivos de grandes organizações:

Administrar é prever, organizar, comandar e controlar. (p.61)

Funções básicas da Administração perduram até os dias de hoje; (p.62)

Similitudes entre Fayol e Taylor:

A partir da indústria pesada;

Pesquisas técnicas e experimentação ;

Visão mecanicista das organizações.

Planejamento e previsão condicionam as demais funções;

Antecipou a ideia de planejamento de longo prazo em muitas décadas.

Fayol: Organização - O organismo material e o organismo social. (p.63)



O corpo social;

Missão administrativa do corpo social:

Programa de ação (p.63)

Concorrer para que se efetue um bom recrutamento, tendo cada serviço em sua direção um homem competente e ativo e estando cada agente no lugar em que possa render o máximo; (p.64)

Definir claramente as atribuições;

Encorajar o gosto pelas iniciativas e responsabilidades;

Remunerar equitativa e habilmente os serviços prestados;

Aplicar sanções contra as faltas e os erros; (p.64)



Manter a disciplina;

Velar para que os interesses particulares sejam subordinados ao interesse da empresa;

Dar particular atenção à unidade de seu comando;

Zelar pela ordem material e social; (p.64)

Manter tudo sob controle;

Combater os abusos de regulamento e de formalismo burocrático, a papelada, etc.

Max Weber e a Burocracia (1864-1920)

Max Weber: Estudos sobre as fontes de autoridade e a resultante forma organizacional a que chamou de burocracia. (p.64)

Burocracia: ideia de algo emperrado. (p.65)

Weber: organização formal – os meios racionais utilizados para dirigir as atividades de muitos indivíduos ocupantes de cargos diferentes, visando atingir um objetivo comum. (p.65)

Autoridade: Três tipos básicos de relações de autoridade:

Autoridade Tradicional: apoiada no costume ou práticas passadas. Fraqueza – valorizar o precedente, o passado, e não a melhor decisão possível. (p.65)

Autoridade Carismática: Devoção à santidade, heroísmo ou caráter exemplar específico e excepcional de um indivíduo. Fraqueza: não prevê nem provê uma base para a sucessão. (p.65)

Autoridade racional-legal: exercida para atingir objetivos específicos; baseada no direito legal da pessoa ocupante de um determinado cargo de emitir ordens. O mais adequado para organizações de porte, complexas em natureza. Enfatiza a obediência às ordens de quem ocupa o cargo. A autoridade está vinculada ao cargo e não ao indivíduo. (p.65)

Tipo de organização que surgiria como consequência do emprego da autoridade racional-legal: burocracia.

Aspectos essenciais:

Ênfase na forma, na hierarquia, na organização sequencial de cargos por regras e normas. (p.65)

Especialização da tarefa e competência: preparo técnico adequado – treinamento;

Regras e normas: parâmetros e orientações oficiais a serem seguidos;

Responsabilidades definidas: autoridade (p.66)

Registro: Conhecimentos documentados.

Burocracia em funcionamento:

Grande organização, como o serviço público.

Crítica à abordagem clássica: visão parcial; aspectos meramente formais das organizações, deixando de lado as pessoas que nelas operam (p.66)

Uma burocracia deve ser:

Sistema de normas escritas e procedimentos operacionais padronizados que especificam como os empregados devem se comportar;

Sistema claramente especificado de relações entre tarefas e papéis de relacionamento; (p.67)

Sistema de seleção e avaliação que recompensa os empregados de maneira justa e equitativa;

Hierarquia de autoridade claramente especificada. (p.67)

Henry Ford (1863-1947)

Elemento-chave na propulsão da linha de montagem e da indústria automobilística;

Produção verticalmente integrada; (p.71)

Altos salários e baixos preços de venda;

Massificação da produção;

Baixa qualidade dos carros produzidos, muito simples, sem sofisticação tecnológica;

A indústria das indústrias do século XX; (p.71)

Trouxe a Revolução Industrial a seu ápice;

Integração vertical;

Salário substancialmente acima da média do mercado;

1926: Negócios e indústria são, antes de tudo, um serviço público. Estamos organizados para fazermos o melhor que pudermos em todos os lugares e para todos os interessados. (p72)

Não acredito que devamos ter um lucro exorbitante com os nossos carros. Um lucro razoável está certo, mas não demais. Portanto, minha política tem sido a de forçar os preços dos carros para baixo assim que a produção o permite, e beneficiar os usuários e trabalhadores, o que tem resultado em lucros surpreendentemente grandes para nós. (p.72)

FUNDAMENTOS III - NETTO. DITADURA E SS

NETTO. J. P. Ditadura e Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1991 (capítulo 2).

Vínculo entre a autocracia burguesa e a renovação do Serviço Social

Erosão e deslegitimação do Serviço Social tradicional.

· traços mais subalternos do exercício profissional
· estrato de executores de políticas sociais

SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL: “prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, parametrada por uma ética liberal-burguesa e cuja teleologia consiste na correção – desde um ponto de vista claramente funcionalista – de resultados psicossociais consideradosnegativos ou indesejáveis, sendo pressuposta a ordenação capitalista da vida como um dado factual ineliminável”.

Reformulação do Serviço Social
Condições novas: reorganização do Estado, modificações profundas na sociedade.

Impactos sobre a prática e a formação profissionais.

Mercado nacional de trabalho, macroscópico e consolidado.

· Reorganização do Estado
· Processo de desenvolvimento
· Reequacionamento a malha organizacional
· Reformulação organizacional e funcional
· Complexificação dos aparatos em que se inseriam os profissionais
· Diferenciação e uma especialização das atividades dos AS

Mercado nacional de trabalho: Estado, médias e grandes empresas

Crescimento industrial (Serviço Social de empresa)

Elenco mais amplo das políticas sociais. Novo padrão de exigências para o desempenho profissional. Alterações no relacionamento dos profissionais com:

· as instâncias hierárquicas
· as fontes dos seus recursos
· os outros profissionais com que concorriam
· os seus usuários.

Integrar o conjunto de procedimentos administrativos “modernos”

Efeito global dessas exigências: erosão do Serviço Social tradicional

Dimensionamento técnico-racional: mudou o perfil do profissional

Profissional “moderno” - profunda rotação na formação dos AS

Refuncionalização da formação: confessionalismo, paroquialismo e provincialismo.

O SERVIÇO SOCIAL INGRESSA COM ISSO, NO CIRCUITO DA UNIVERSIDADE

Influxo da sociologia, da psicologia social e da antropologia.

Ausência de fortes tradições intelectuais e de investigação na formação profissional.

Viés tecnocrático e asséptico das disciplinas sociais na universidade da ditadura.

Primeira metade de 60: carecia de elaboração teórica significativa

LAICIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Possibilidade de alternativas ao exercício profissional demandadas pela DM

RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: conjunto de características novas; rearranjo de suas tradições; assunção das contribuições das tendências do pensamento social contemporâneo; legitimação prática, através de respostas a demandas sociais; validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.

Construção de um pluralismo profissional.

Validação teórica da profissão: conquista de um espaço na interlocução com os problemas e as disciplinas das ciências sociais.

Referência a um repertório de problemas e a um arsenal heurístico mais amplos. Recepção crescente a núcleos temáticos do processo cultural contemporâneo da sociedade brasileira.

Nós mais decisivos do processo de Renovação do Serviço Social:

· instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional;
· crescente diferenciação das concepções profissionais, derivada do recurso diversificado a matrizes teórico-metodológicas alternativas;
· sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em curso no conjunto das ciências sociais - interlocução acadêmica e cultural que tenta cortar a subalternidade intelectual - funções meramente executivas;
· constituição de segmentos de vanguarda, sobretudo mas não exclusivamente inseridos na vida acadêmica, voltados para a investigação e a pesquisa.

Conseqüências: incidência, no mundo mental do assistente social, de disciplinas sociais que sensibilizam o profissional para problemáticas macrossociais; inserção do AS em equipes multiprofissionais nas quais o seu estatuto não estava previamente definido como subalterno.

Três elementos relevantes para detectar a erosão do Serviço Social Tradicional:

· dissintonia com as solicitações contemporâneas
· insuficiência da formação profissional
· subalternidade executiva

Rebatimento profissional:

· amadurecimento de setores da categoria profissional, na sua relação com outros protagonistas e outras instâncias
· desgarramento de segmentos da Igreja católica em face do seu conservantismo tradicional;
· espraiar do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas escolas de Serviço Social;
· referencial próprio de parte significativa das ciências sociais - dimensões críticas e populares.

Resultante: de uma parte, crítica a práticas e representações tradicionais; de outra, diferenciações no interior das práticas e representações que se reclamavam conectadas às novas exigências – precisamente aquelas que se prendiam ao Desenvolvimento de Comunidade.

Vislumbra-se, no início dos anos 60:

· visível desprestígio do Serviço Social tradicional
· crescente valorização da intervenção no plano comunitário

Três vertentes profissionais:

1. extrapola para o Desenvolvimento de comunidade os procedimentos e as representações tradicionais, apenas alterando o âmbito de sua intervenção;

2. pensa o Desenvolvimento de Comunidade numa perspectiva macrossocietária, supondo mudanças socioeconômicas estruturais, mas sempre no bojo do ordenamento capitalista;

3. pensa o Desenvolvimento de comunidade como instrumento de um processo de transformação social substantiva, conectado à libertação social das classes e camadas subalternas.

Esse processo foi abortado pelo golpe militar.

Autocracia burguesa: neutralização dos protagonistas sociopolíticos comprometidos com a democratização da sociedade e do Estado; corte dos suportes que poderiam dar um encaminhamento crítico e progressista à crise em andamento no Serviço Social tradicional; por outro lado, precipitou esta mesma crise.

A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NA AMÉRICA LATINA

A crise do Serviço Social tradicional - anos 60 - fenômeno internacional; contestação de práticas profissionais - Três vetores:

· revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais.
· deslocamento sociopolítico de outras instituições: as Igrejas
· movimento estudantil: contestação nas agências de formação.

Expressão mais importante desse processo erosivo: América Latina, a partir de 65 – o chamado movimento de reconceptualização (ou reconceituação) do Serviço Social.

Reconceituação - parte integrante do processo internacional de erosão do Serviço Social tradicional; a ruptura com o Serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora, exploradora; intimamente vinculada ao circuito sociopolítico latino-americano da década de 60: funcionalidade profissional na superação do subdesenvolvimento.

É esse movimento, localizável praticamente em todos os países ao sul do Rio Grande, que permite uma espécie de grande união profissional que abre a via a uma renovação do Serviço Social. Num prazo muito curto, porém, aquela grande união objetivamente se esfarinha. Concorrem para isso duas ordens de causas:

· As ditaduras burguesas não deixaram vingar as propostas de ultrapassagem do subdesenvolvimento;

· Posições e projeções distintas na crítica ao Serviço Social tradicional: um pólo investia num aggiornamento do Serviço Social e outro tencionava uma ruptura com o passado profissional.

Movimento de reconceituação - se exaure por volta de 75 - heterogeneidade – ilusão de unidade - relação com a tradição marxista - manuais de divulgação de qualidade discutível, contaminação neopositivista, pouca presença do pensamento de inspiração marxiana; bases para pensar a profissão sob o marxismo; interlocução entre o Serviço Social e a tradição marxista.


DIREÇÕES DA RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

Três momentos: segunda metade dos anos 60; segunda metade dos anos 70; abertura dos anos 80. Três direções principais.

Primeira: PERSPECTIVA MODERNIZADORA; adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de intervenção inserido no arsenal de técnicas sociais a ser operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos processos sociopolíticos emergentes no pós-64; auge de sua formulação: textos dos seminários de Araxá e Teresópolis.

Nova fundamentação de que se socorre para legitimar o papel e os procedimentos profissionais; aportes extraídos do estrutural-funcionalismo norte-americano; caráter modernizador desta perspectiva: aceita como dado inquestionável a ordem sociopolítica da DM , e procura dotar a profissão de referências e instrumentos capazes de responder às demandas que se apresentam; se reporta a valores e concepções mais tradicionais, não para superá-los ou negá-los, mas para inseri-los numa moldura teórica e metodológica menos débil; foi a expressão da renovação profissional adequada à autocracia burguesa; terá sua hegemonia posta em questão a partir de meados dos anos 70, com a crise da autocracia burguesa.

Conteúdo reformista não atende às expectativas do segmento profissional que resiste ao movimento de laicização ocorrente e se recusa a romper com o estatuto e a funcionalidade subalternos historicamente assumidos pela profissão. Seu traço conservador e sua colagem à ditadura incompatibilizam-na com os segmentos profissionais críticos.

Segundo lustro da década de 70: duas outras direções.

Renovação compatível com o segmento do Serviço Social mais impermeável às mudanças: PERSPECTIVA DE REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO; recupera a herança histórica e conservadora da profissão e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se aclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana. Intervenção microscópica, visão de mundo derivada do pensamento católico tradicional. Utiliza-se da fenomenologia; beneficia-se de um acúmulo de expectativas, referentes ao exercício do Serviço Social fundado no circuito da ajuda psicossocial.

Terceira direção: perspectiva que se propõe como INTENÇÃO DE RUPTURA com o Serviço Social tradicional. Crítica sistemática ao desempenho tradicional e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Resgate crítico de tendências que supunham rupturas político-sociais de porte para adequar as respostas profissionais às demandas estruturais do desenvolvimento brasileiro. Recorre progressivamente à tradição marxista e revela as dificuldades da sua afirmação no marco sociopolítico da autocracia burguesa.

Oposição ao tradicionalismo do Serviço Social. Flagrante hiato entre a intenção de romper com o passado conservador do Serviço Social e os indicativos prático-profissionais para consumá-la.

Algumas características da PERSPECTIVA MODERNIZADORA:

· Preocupação com a problemática do desenvolvimento
· A relação subdesenvolvimento/desenvolvimento - um continuum
· Concepção teórica: estrutural-funcionalismo
· Concepção ideológica: reformismo conservador de viés desenvolvimentista
· Seminário de Araxá em 1967
· Seminário de Teresópolis em 1970
· Seminário de Sumaré em 1978
· Seminário do Alto da Boa Vista em 1984

Algumas características da REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO:

· Subordinação às exigências da modernização conservadora
· Valorização da elaboração teórica
· Crítica à herança positivista e utilização da fenomenologia
· Ajuda psicossocial (viés psicologizante)
· Dissolução das determinações de classe nos processos societários
· Centralização nas dinâmicas individuais e recuperação de valores tradicionais
· Duplo combate: tendências da modernização; incidências da tradição marxista
· Intervenção em nível de microatuação

Algumas características da INTENÇÃO DE RUPTURA:

· Caráter de oposição ao regime autocrático burguês
· Cresce com a crise da autocracia burguesa
· depende de liberdades democráticas para avançar no seu processamento.
· Vinculação estreita com universidade
· bases sociopolíticas: democratização; movimento das classes exploradas
· elementos fundamentais: método BH; reflexão de Iamamoto (1982).

Método BH: proposição global de alternativa ao tradicionalismo, inaugurou – enquanto formulação de um projeto profissional que, respondendo à particularidade da conjuntura brasileira, estava sintonizado com as vanguardas renovadoras mais críticas da América Latina – a perspectiva da intenção de ruptura enfrentando as questões mais candentes da configuração teórica, ideológica e operativa que constituem uma profissionalidade como a do Serviço Social.

Iamamoto: compreender o significado social do exercício profissional em suas conexões com a produção e reprodução das relações sociais na formação social vigente na sociedade brasileira. Serviço Social inserido na dinâmica capitalista, à luz de uma inspiração teórico-metodológica haurida direta e legitimamente na fonte marxista. Com ela, as problemáticas internas da profissão encontram a base para um equacionamento novo e concreto; situa histórica e sistematicamente as questões de teoria, método, objeto e objetivos profissionais no âmbito que lhes é precípuo: o da profissionalidade que se constrói nos espaços da divisão sociotécnica do trabalho, tencionados pelo rebatimento das lutas de classes. Com a elaboração de Iamamoto, a vertente intenção de ruptura se consolida no plano teórico-crítico.

Teoria das Organizações - Aula 1

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Conceitos Básicos:
Alerta: antes de mergulhar em disciplinas técnicas específicas que lhe ensinarão o know-how – o como fazer, há alguns conceitos fundamentais que servirão de base para sua ação posterior. (P.38)
¢Ciência significa tão-somente conhecer. Seu objetivo é descrever os fenômenos do mundo real.
¢Estaremos aptos a buscar explicações para esses fenômenos e predizer determinados fenômenos. (P.38)
¢Ciência Pura: descrição do fenômeno, à sua compreensão;
¢Quando utilizamos esse conhecimento para agir passamos para o campo das Ciências Aplicadas.
¢Ciência Social: investiga e explica aspectos da relação entre o indivíduo e a sociedade. (P.38)
¢O pressuposto é que existem regularidades na vida social que podem ser observadas e que, se podem ser observadas, também podem ser previstas e controladas.
¢Ideia de controle  está ligada ao conceito de Ciência Aplicada e não ao de Ciência Pura. (P. 38)
ØMetodologia Científica:
ØTeoria: Tentativa de associar e integrar os dados coletados através da experimentação e observação em um sistema explanatório compreensível. (P.39)
¢A Teoria da Organização é produto do século XX.
¢O Conceito de Organização
¢Weber: Grupo corporativo
¢Definiu como “uma relação social que, ou é fechada ou limita à admissão de forasteiros através de regras”, na medida em que essas normas ou regras são colocadas em prática pela ação de determinados indivíduos que ocupam posições de mando ou de chefia ou por um staff  administrativo. (p.41)
¢Três características:
¢1- O “grupo corporativo” é caracterizado por fronteiras ou limites específicos, na medida em que pessoas são impedidas de participar ou sua participação é sujeita a especificações muito clara. Existem membros e não-membros; (p.41)
¢2- Existe um conjunto de normas e regras a ser seguido por todos que participam do grupo e que definem condutas consideradas aceitáveis – ou não aceitáveis – de seus membros;
¢3- A ordem existente é legal (por oposição à convencional), na medida em que há uma diferença de poder entre os membros integrantes, existindo um subgrupo que decide exercer controle e administrar punições. (P. 41)
¢Caráter associativo, interesses comuns.
¢Para ter caráter associativo, ser efetivamente uma associação, deve apresentar duas características adicionais:
¢A) deve ter um caráter comunal, pois faz com que as pessoas se reúnam e se agreguem; é um sentimento de pertencimento ou de tradição compartilhada.
¢Weber exclui a família do grupo chamado organização, só para exemplificar. (p.41)
¢B) A segunda característica é que as atividades de uma organização sejam implementadas de maneira sistemática, e que os objetivos perseguidos por seus membros sejam relativamente específicos; (p.42)
¢Barnard: as organizações são um subsistema de um sistema mais amplo, que ele denominou sistemas cooperativos. Esses cooperativos criam os meios necessários para que certas limitações individuais possam ser superadas, sejam elas biológicas, físicas ou sociais. (p.42)
¢Já uma organização é um tipo de sistema cooperativo existente entre os homens e que se caracteriza por ser consciente, deliberado e com propósitos definidos.
¢É portanto, “um sistema de atividades ou forças, de duas ou mais pessoas, conscientemente coordenadas”.
¢Três elementos que considera essenciais: Comunicação entre os indivíduos participantes, a motivação para contribuir e o propósito comum. (p. 42)
¢Uma organização é:
¢“Um sistema de atividades pessoais ou forças conscientemente coordenadas”.
¢“Um grupo de pessoas que trabalham juntas, sob orientação de um líder, visando a consecução de um objetivo”.
¢“Uma integração impessoal, altamente racionalizada, de um grande número de especialistas que operam para atingir algum objetivo, e sobre a qual é importante uma estrutura de autoridade altamente elaborada”. (p.43)
¢“Organizações são unidades sociais (ou grupos humanos) deliberadamente construídos e reconstruídos para atingir objetivos específicos”. Corporações, exércitos, escolas, hospitais, igrejas e prisões estão incluídas; tribos, classes, grupos éticos, grupos de amizade e família estão excluídos. (p. 43)
¢As organizações são caracterizadas por:
¢A) divisão do trabalho, poder, responsabilidades pela comunicação, divisões que não são casual ou tradicionalmente estruturadas, mas deliberadamente planejadas para alcançar a realização de objetivos específicos; (p.43)
¢B) a presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços planejados da organização e os dirigem para os objetivos dela; esses centros de poder devem revisar continuamente o desempenho organizacional e repensar sua estrutura, quando necessário, para aumentar sua eficiência; (p.43)
¢C) substituição de pessoal, isto é, aqueles com desempenho não satisfatório podem ser removidos, e suas tarefas podem ser atribuídas a outros.
¢“Uma organização é uma unidade coordenada que consiste em pelo menos duas pessoas que funcionam conjuntamente para o alcance de um objetivo comum ou de um conjunto de objetivos”. (p.43)
¢Uma organização é um grupo humano, composto por especialistas que trabalham em conjunto em uma atividade comum”.
¢O Objetivo do estudo é o mesmo: as grandes organizações complexas. (p. 43)
¢Características de uma organização complexa:
¢Grande, em seu porte;
¢Formalização: estabelece certos controles e certas normas por meio de organogramas e do estabelecimento de políticas e diretrizes, cuja função é criar estabilidade e previsibilidade para que a organização possa funcionar; (p. 44)
¢Racionalidade: Estabelecimento de estrutura e de cargos com descrições específicas. Criar uma certa ordenação;
¢Hierarquia: Existência de diferentes níveis de autoridade e responsabilidade;
¢Especialização: Agrupamento de atividades executadas especificamente. Concentra-se sua atenção em uma única tarefa. (p.44)
¢Teorias organizacionais, Teorias Gerenciais e Teoria da Administração
¢Em sua quase totalidade são de origem anglo-saxônica – as expressões organization theory e management theory , que traduziremos por Teoria Organizacional e Teoria Gerencial, respectivamente. (p.48)
¢A teoria Organizacional é descritiva e/ou preditiva. Se preocupa com aquilo que uma organização é e o que ocorrerá sob certas espécies de arranjos interpessoais ou estruturais-interpessoais. Ela nos diz o que é e o que será. Ela não nos diz o que fazer. (p. 48)
¢Teoria Organizacional:
¢Um conjunto de afirmações relacionadas, hipóteses, sobre um conjunto de variáveis que descrevem os parâmetros da organização e, talvez, o comportamento organizacional, e/ou uma série de afirmações do tipo, se... Então que predizem o efeito de certos arranjos estruturais sobre o desempenho e o comportamento. (p.48)
¢A teoria Gerencial prescreve o que fazer para chegar a um determinado resultado ou para evitar uma determinada condição indesejável venha a ocorrer. (p.48)