TRABALHO E SOCIABILIDADE - HARVEY - A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA

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Fordismo - iniciado em 1914 quando Henry Ford introduziu oito horas e cindo dólares como recompensa para trabalhadores da linha de montagem de carros. Taylor (Os princípios da Administração Científica em 1911) = separação entre gerência, concepção, controle e execução e tudo o que isto significava em termos de relações sociais hierárquicas e de desestabilização dentro do processo de trabalho.

O que havia de especial em Ford era sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa = novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista.

Dar ao trabalhador renda e tempo de lazer para que consumissem os produtos em massa, mas isto exigia que os trabalhadores soubessem como gastar seu dinheiro e para isto, Ford em 1916 enviou um exército de AS aos lares dos trabalhadores.

O período de 65 a 73 tornou evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo.

Estas dificuldades provinham da rigidez. Rigidez nos investimentos de capital fixo que impediam flexibilidade de planejamento, rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de trabalho. Toda a tentativa de superar esses problemas de rigidez encontrava a força aparentemente invencível da classe trabalhadora, o que explica as ondas de greve.

A mudança tecnológica, a automação, a busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de controle do trabalho mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo de giro do capital passaram ao primeiro plano das estratégias corporativas. As décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político



A acumulação flexível, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. Envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, criando um vasto movimento no emprego no chamado setor de serviços, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas. Envolve um novo movimento chamado de compressão do espaço-tempo no mundo capitalista – os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variado.

Esses poderes aumentados de flexibilidade e mobilidade permitem que os empregadores exerçam pressões mais fortes de controle do trabalho sobre uma força de trabalho enfraquecida, aumentando o desemprego. O trabalho organizado foi solapado pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões que careciam de tradições industriais anteriores.

A acumulação flexível implica níveis relativamente altos de desemprego estrutural, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos de salários reais e o retrocesso do poder sindical.

O mercado de trabalho passou por uma radical reestruturação. Diante da volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente para impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis.


Aparente redução do emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado.

Mercado de trabalho do tipo detalhado:

Centro = grupo que diminui cada vez mais,empregados em tempo integral, gozando de maior segurança no emprego, boas perspectivas de promoção e de reciclagem, e de uma pensão, um seguro e outras vantagens indiretas relativamente generosas, esse grupo deve atender à expectativas de ser adaptável, flexível e, se necessário, geograficamente móvel;

A periferia = dois subgrupos:

1 - empregados em tempo integral com habilidades facilmente disponíveis no mercado de trabalho. Com menos acesso a oportunidades de carreira, esse grupo tende a se caracterizar por uma alta taxa de rotatividade, o que torna as reduções as reduções da força de trabalho relativamente fáceis por desgaste natural;

2 - o segundo grupo oferece uma flexibilidade numérica ainda maior e inclui empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratação e treinandos com subsídios público, tendo ainda menos seguranças de emprego do que o primeiro grupo periférico. Todas as evidências apontam para um crescimento significativo desta categoria de empregados nos últimos anos.

A mudança mais radical tem sido o aumento da subcontratação e o trabalho temporário. A atual tendência dos mercados de trabalho é reduzir o número de trabalhadores centrais e empregar o tipo de trabalho periférico.

A subcontratação organizada abre oportunidades para a formação de pequenos negócios, permitindo que sistemas antigos de trabalho doméstico revivam e floresçam, mas agora como peças centrais e não como apêndices do sistema produtivo.

Uma das grandes vantagens do uso dessas formas antigas de processo de trabalho e de produção pequeno-capitalista é o solapamento da organização da classe trabalhadora e a transformação da base objetiva da luta de classes. A consciência de classe já não deriva da clara relação entre capital e trabalho, passando para um terreno mais confuso dos conflitos interfamiliares e das lutas pelo poder num sistema de parentescos ou semelhantes a um clã que contenha relações sociais hierarquicamente ordenadas. A luta contra a exploração capitalista na fábrica é bem diferente da luta contra um pai ou tio que organiza o trabalho familiar num esquema de exploração altamente disciplinado e competitivo que atende às encomendas do capital multinacional

Efeitos óbvios acerca da transformação do papel das mulheres na produção e nos mercados de trabalho:

- As novas estruturas facilitam a exploração da força de trabalho feminina em ocupações de tempo parcial, substituindo homens brancos mais bem remunerados e menos demissíveis

- Retorno dos sistemas de trabalho doméstico de cunho patriarcal feitos em casa. A transição para a acumulação flexível foi marcada, por uma revolução no papel das mulheres no mercado de trabalho num período em que o movimento de mulheres lutava tanto por uma maior consciência como por uma melhoria das condições de trabalho.

As economias de escala buscadas na produção fordista de massa foram substituídas por uma crescente capacidade de manufatura de uma variedade de bens e preços baixos em pequenos lotes.

Esses sistemas de produção flexível permitiram uma aceleração do ritmo da inovação do produto. O tempo de giro, que sempre é uma chave da lucratividade capitalista, foi reduzido de modo dramático pelo uso de novas tecnologias produtivas (automação, robôs) e de novas formas organizacionais. Mas a aceleração do tempo de giro na produção teria sido inútil sem a redução do tempo de giro do consumo.

A acumulação flexível foi acompanhada na ponta do consumo, portanto, por uma atenção muito maior às modas fugazes e pela mobilização de todos os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural que isto implica.

Na medida em que a informação e a capacidade de tomar decisões rápidas num ambiente incerto, efêmero e competitivo se tornaram cruciais para os lucros, a corporação bem organizada tem vantagens competitivas sobre os pequenos negócios.

A organização mais coesa e a centralização implosivas foram alcançadas por dois desenvolvimentos paralelos:

1. as informações precisas e atualizadas são agora uma mercadoria muito valorizada (a ênfase na informação gerou um conjunto de consultorias e serviços especializados capazes de fornecer informações minuto a minuto sobre as tendências de mercado)

2. O saber se torna uma mercadoria-chave

O controle do fluxo de informações e dos veículos de propagação do gosto e da cultura populares se converteu em arma vital na batalha competitiva.

Ascensão do neoconservadorismo nos EUA e em parte da Europa. As vitórias de Thatcher (79) e Reagan (80) marcam a ruptura da política do período pós-guerra. Gradual retirada de apoio ao Estado de Bem Estar-Social e ataque ao salário real e ao poder sindical. Individualismo mais competitivo como valor central numa cultura empreendedorista que penetrou em muitos aspectos da vida. A ação coletiva se tornou mais difícil e o individualismo se tornou condição necessária da transição do fordismo para a acumulação flexível.